Passando a capa para uma nova geração

Renan Almeida

“Também levantou a capa de Elias, que dele caíra; e, voltando-se, parou à margem do Jordão. E tomou a capa de Elias, que dele caíra, e feriu as águas, e disse: Onde está o SENHOR Deus de Elias.” 
(II Re 2:13,14 – ACF 2007)


Permitam-me hoje agir com uma dose extrema de nostalgia e chorar pela miserável e deprimente situação da igreja de nossos dias. Que me seja concedida a chance de gritar e externar o som que se encontra preso em meu peito por meio das palavras postas nesse texto. Que me seja dada a oportunidade de mandar o leitor, se preciso for, tomar vergonha na cara e ter ousadia para que, na autoridade do Espírito Santo, você possa, de alguma forma, mudar a situação presente em nossos arraiais.

Penso ser deprimente nos lembrarmos do passado, pois, em muitos casos, o mesmo é capaz de nos mostrar o quão incompetente somos na manutenção de preciosos legados que nos foram entregues. Quando leio a história de Elias sinto-me meio que deprimido e ao mesmo tempo esperançoso. O apóstolo Tiago ao falar de Elias, diz que Elias era homem sujeito as mesmas paixões que nós, mas que quando orou, o céu não deu chuva até que o mesmo orasse para que a situação fosse mudada.


Quando o apóstolo Tiago fala que  Elias era homem sujeito às mesmas paixões que nós, é como se eu ouvisse “ Elias tinha aquela autoridade, você pode ter também... se não tem é por sua incompetência”. É doloroso ouvir isso no espírito. Alguns costumam dizer que temos excelentes expositores das Escrituras, excelentes pregadores, mas que não temos mais os mesmos milagres, mas infelizmente até nisso tenho que discordar. Na verdade, os que são considerados “excelentes pregadores” são homens, que em sua maioria, tem a boca cheia de bordões toscos, mas nenhum conhecimento sério acerca das Escrituras.

Esses homens que são considerados como excelentes pregadores, são em sua maioria, amantes do próprio ventre... pessoas que pregam coisas lisonjeiras para  agradar aos ouvintes, mas esse tipo de pregação nada mais é do que um atalho para o inferno. Se não temos mais milagres como na igreja primitiva é por incompetência cristã e se não temos mais pregadores honrosos (na quantidade que deveríamos ter) é porque as pessoas não querem ser confrontadas, mas sim massageadas e os homens que deveriam pregar a verdade, acabam por se vender.

Por que eu citei tal texto bíblico? Porque existe algo de profundo no mesmo. Note que Elias não jogou sua capa, ele a deixou cair e Eliseu a pegou. E o que tem isso demais? Muitos homens de Deus do passado não imaginaram que  deixariam legados tão preciosos para nós. Falarei de nossos “contemporâneos”. Você acha que John Edwards sabia que entraria para a história por causa do seu célebre sermão “pecadores nas mãos de um Deus irado”? Você acha que Calvino acreditava que seria lembrado por 5 séculos por seu papel como reformador da igreja? John Weslley imaginava que seria lembrado pelo avivamento que varreu a Inglaterra? Penso que nenhum desses homens tinham noção de que, pela misericórdia de Deus, estava escrevendo seus nomes nos rodapés da história do evangelho.

Indiretamente, homens como esses citados e outros como Spurgeon, Dwight L. Moody, Charles  Finney (ainda considero a teologia dele um pouco suspeita), J. C. Ryle deixaram cair para nós a capa do Evangelho. Eles foram levados para morar ao lado do Rei da Glória, foram livres da temporalidade humana e adentraram a presença de Deus. No entanto, nós estamos aqui, divididos em dois grupos de “Eliseus”. Um grupo é ousado e tem coragem de usar a capa  e clamar pelo Deus de Elias, no entanto, em contrapartida, o outro grupo usa o nome de discípulo de Elias, mas não tem tal coragem. Estão satisfeitos com o trabalho que Elias fez, mas preferem nadar no Jordão do que  mandar o mesmo se abrir.

É excelente sentar-se em um banco e ouvir alguém gritar “crente que não faz barulho está com defeito de fabricação”, mas que tal sentarmos e aprendermos que os grandes avivamentos da história foram “produzidos” com lágrimas,  oração, leitura da palavra e uma renúncia que impulsionava para a evangelização?

Não creio que haja algo de errado com a velha forma de se adorar a Deus. As gerações atuais riem dos mais antigos e chamam aos mesmos de “legalistas” , mas não imaginam que o “legalismo” (imerso nas águas do Espírito) dos antigos produziu um número incontável de avivamentos, mas o que nossa sociedade “cristã” liberal e “extravagante” tem a nos oferecer? Temos histórias de avivamentos e momentos com Deus para contarmos às futuras gerações? Ou deixaremos cair, para as futuras gerações, uma capa rasgada, inútil, imersa em heresias e liberalismo teológico?

É bom termos uma sólida base de fé e essa fé que quero transmitir aos meus filhos quando nascerem.  Não quero ensiná-los um evangelho ‘extravagante’, mas sim um evangelho de renúncias. E você? O que você fará pela próxima geração?

Pense nisso.


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