Igrejas Missionais e o desafio eclesiástico



A Graça e a Paz de Nosso Senhor Jesus Cristo!

A Igreja "Una, Santa, Universal e Apostólica" (conforme a declaração clássica do Credo Apostólico) durante esses 2.000 anos tem enfrentado dificuldades para manter viva a mensagem de Amor que Jesus Cristo anunciou ao mundo. Desde os primeiros séculos a Igreja tem enfrentado dificuldades como heresias, divisões, ganância e insubordinação de bispos e presbíteros a Palavra de Deus. Muitos falam corretamente que vivemos em meio a um "meio evangélico fálido", mas a verdade é que em quase todas as épocas da História Cristã houve quem dissesse isso. Afinal sempre deverá haver joio em meio ao trigo para que o Pai santifique os seus escolhidos. Mas - graças a Deus - é do conhecimento de todos que Deus sempre levantou profetas para combater estas coisas e pela Sua Graça Ele tem preservado seu povo firme e militante na Terra a 2.000 anos. Assim será até a consumação dos séculos.

Nesta caminhada que o povo de Deus tem feito na História o maior desafio da Igreja tem sido pregar o Evangelho com poder e exatidão teológica sem deixar de pregar uma mensagem que leve a transformações concretas na vida de pessoas e cidades inteiras. Em quase todas as experiências comunitárias que tivemos na história sempre faltou um desses pontos. Há igrejas com exatidão teológica e influência social, mas que não tem poder do Espírito Santo na liturgia. Há igrejas que pela misericórdia de Deus tem poder do Espírito Santo mas que são sectárias e exclusivistas... 

Essa é a verdade e não podemos correr dela. É como se Deus chegasse para todos e dissesse: "Se vocês são salvos é tão somente pela minha Graça e se eu estou salvando vocês não é pelo bom serviço, mas tão somente porque amo vocês e sou fiel ao que digo!".

O chamado do Espírito Santo é que olhemos para os Atos dos Apóstolos e principalmente para a pessoa de Cristo e busquemos - mesmo com nossas imperfeições - pregar o "Evangelho Todo para o Homem Todo" (Pacto de Lausanne) . Como isso é possível? Muitas são as respostas e vários métodos já foram propostos como "Igreja com Propósitos", G12, Movimento de Crescimento de Igreja, Rede Ministerial... Mas a verdade é que são coisas das quais Paulo falou "que nada se aproveita". Pelo simples fato de pressupor que métodos empresárias vão resolver o problema, e não levam em conta um estilo de doutrina e pregação cuja falta gera igrejas inconsistentes. 

Na busca dessa resposta Mark Driscoll parece ter "acertado na mosca": o segredo é plantar novas igrejas que sejam missionais.

O que são Igrejas Missionais?

As Igrejas Missionais (como propostas pelo "Novo Calvinismo", um movimento de igrejas missionais e centradas no Evangelho) são por definição igrejas cristãs que buscam ser "braços e pernas de Deus no mundo" para levar adiante a expansão do Reino de Deus; sendo a Missio Dei (missão de Deus ou Grande Comissão) o eixo no qual todas as atividades da igreja são organizadas. Vejamos os pilares desse tipo de igreja local:


Teologia Reformada: Uma igreja missional é caracterizada primeiramente por ter no seu púlpito uma pregação de linha reformada. Ou seja: Os Cinco Solas (Somente a Escritura, Somente a Graça, Somente a Fé, Somente Cristo,  e Somente a Deus a Glória), como também a cosmovisão reformada: Há um Deus Todo-Poderoso, totalmente soberano e bom em sua essência, que tem levado em curso um plano divino de redenção. Esse Deus criou um mundo maravilhoso e infinito que foi corrompido pela ganância humana em seguir seus próprios caminhos e prazeres fazendo-se cada vez mais perversa e má. Por sua infinita misericórdia, Deus separou dentre a humanidade rebelde um povo para preservar a Criação e formar uma multidão de sacerdotes em adoração a Ele. Esse povo é sacerdote de Deus na criação tão somente pela Graça de Deus que gera fé nos eleitos. É óbvio que "o jeito reformado" de ver a vida e a Fé Cristã é muito mais amplo do que isso, contudo todo o resto é substrato das afirmações acima. É esta a mensagem que as igrejas missionais pregam. As Igrejas Missionais começam do pressuposto de que "Calvinismo" é apenas um apelido para o Evangelho de Cristo, portanto ao pregar estas coisas apenas estamos anunciando que Cristo é nosso salvador. A visão por trás da pregação reformada é a de que a igreja missional deve anunciar o Evangelho de Jesus  com excelência.

Relacionamentos Complementares: Renan certa vez me disse algo interessante - "A forma mais forte de ser um subversivo hoje em dia é sendo um ortodoxo". Essa subversão que as igrejas missionais exercem contra certos padrões sejam dentro ou fora dos campos eclesiásticos também inclui uma visão de Relacionamentos Complementares. Isso significa que nas igrejas missionais, homens e mulheres tem o seu papel e ambos são importantes para que a imagem de Deus seja estabelecida na comunidade. Esse pilar não  foi "posto" por conveniência ou machismo, essa visão é a da Bíblia: mulheres servem na igreja como auxiliares e pregadoras mas cabe aos homens exercerem os cargos de liderança e disciplina; sendo que apenas homens podem ser ordenados ao presbitério ou ao episcopado (ou pastorado). É estranho para algumas pessoas que igrejas caracterizadas pela comunhão, inclusividade e falta de religiosidade adotem uma postura tão "retrógrada"; mas a verdade é que uma igreja missional não pode ser caracterizada como fundamentalista pentecostal ou liberal, nem de direita ou de esquerda... está a frente pois a unica posição é a de Cristo Jesus.

Ministério Cheio do Espírito Santo: É nesse ponto que as igrejas missionais como estamos expondo aqui se diferenciam das demais igrejas reformadas. Os dois primeiros pontos são um consenso entre as igrejas reformadas do planeta. As Igrejas Missionais, como o Novo Calvinismo propõe, exercem os dons espirituais como variedade de línguas, profecia, discernimento espiritual, interpretação de línguas... Apesar de adotarem a visão reformada de Batismo no Espírito Santo como sendo a conversão em si, os dons são exercidos na igreja e individualmente como sinal da salvação. É certo que existem muitos envolvidos no Novo Calvinismo que não exercem esse dons, mas a visão de Igreja Missional tem como ponto fundamental a busca e a execução coletiva dos dons espirituais. A Mars Hill Church e, também, o pregador Jonh Piper tem essa posição; sendo que no Brasil são poucas as denominações que adotam essa postura reformada e renovada, sendo que as únicas que conheço são a Igreja Anglicana Reformada e a REINA (as demais são igrejas independentes como Projeto 242 e a Assembléia de Deus em Venda da Cruz/Niterói-RJ). Os dons espirituais são uma realidade na Bíblia e na missão da Igreja. Não há nenhum texto do NT que afirme uma cessação dos dons após a morte dos apóstolos; por isso as igrejas missionais se propõem a buscar estes dons.

Prática Missional: Por fim as igrejas missionais vivem em uma prática missional...[Nota do Renan: Tem coisa mais óbvia pra se dizer? claro que igreja missional tem prática missional. Vou bater no Fabio com uma Bíblia ungida].  Isso quer dizer principalmente que as igrejas missionais tem como visão se envolver com a cultura ao seu redor e pregar o que o Evangelho tem a dizer sobre a cultura (ou como Driscoll costuma dizer: "redimir a cultura"). Esse conceito é um tanto complexo, porém podemos pontuar algumas atitudes das igrejas missionais a fim de compreendermos melhor o que vem a ser a prática missional.

* Envolvimento sócio-cultural. Numa igreja missional a vida comunitária (seja dentro da igreja como com a comunidade ao redor) é vista como a unica forma de viver integralmente o Evangelho de Cristo. Jesus estabeleceu uma comunidade de discípulos e seria por meio de comunidades que o Reino de Deus se expandiria por todo o Império Romano. Só há Reino de Deus onde há pessoas se relacionando em Amor. Portanto para propagar o evangelho, a igreja missional busca servir a comunidade disponibilizando o local de culto, ajudando os carentes da comunidade, "catequizando" as crianças da comunidade... Além de buscar "pregar o que Jesus pregaria se vivesse no local".

* Postura Missionária. Numa igreja missional seus membros vivem no mundo como missionários. Para as igrejas missionais não há diferença entre secular e sagrado - o cristão deve viver segundo os princípios bíblicos aplicando-os em todas as esferas da vida. Vida espiritual não é uma parte da vida e sim algo que deve influenciar toda a vida do indivíduo. A vida espiritual deixa de ser mística e alienada para ser prática, simples e fluida. Isso leva o indivíduo a viver em todos os ambientes os princípios do Reino se destacando dos demais pela sua postura. Por exemplo: minhas atitudes no colégio geralmente são diferentes das atitudes dos meus colegas; quando sou questionado acerca dessas atitudes respondo com o que Jesus ensinou e abro assim uma porta de evangelização (mesmo que muitos deles sejam insensíveis a mensagem do evangelho). Com isso a igreja missional cumpre sua missão fora das quatro paredes: pregando o Reino nos lugares mais distantes.

* Papel de conscientização: A igreja missional assume o papel de conscientizar a comunidade acerca de certos pontos. A igreja missional busca conscientizar a comunidade ao seu redor acerca da importância da educação, do trabalho honesto, do envolvimento político e social (a nível individual) além de se envolver em obras de caridade e apoio social como ponte de evangelização. Esse aspecto da igreja missional é um traço desenvolvido com mais força no Brasil por influência de pastores como Antônio Carlos Costa (IPB e Igreja Plena), Renato Vargens (Igreja Cristã da Aliança/Niterói-RJ) e o Bispo Hermes Fernandes (REINA). 

* Evangelização não-proselitista: No Brasil estamos acostumados a uma evangelização proselitista: se evangeliza para que o indivíduo entre para sua igreja e obedeça ao pastor local, tendo como método o apelo aos problemas emocionais e financeiros das pessoas, curando tais individuos destes males com "passes de mágica". Na igreja missional não há está visão empresarial e instantânea. A igreja missional (diga-se os missionários) prega o Evangelho a todos em todo tempo durante o dia a dia. Os que vêm as cultos são bem recebidos e não são constrangidos a falar ou a participar das atividades da igreja (ninguém o é) e nem há apelos para "levantar a mão" e "aceitar a Jesus". A visão da igreja missional é caminhar sem o peso de "angariar almas", apenas vivendo o Reino de Deus e deixando que o próprio Espírito Santo adicione pessoas a comunhão dos santos.

Enfim, isso define uma igreja missional. Outros pontos poderiam ser ditos e mais discussões poderiam ser feitas mas para fins de definição, isso é a igreja missional.


Por que a Igreja Missional responde ao Desafio da Igreja?

Simplesmente porque ela não propõe um método: há igrejas missionais que tem todos essas características mas que em sua forma e liturgia são muito diferentes. O Projeto 242 é um grupo informal de irmãos em Cristo que adotam posturas como não cobrança de dízimos, e uma  liturgia informal e repleta de dinâmicas; por outro lado a IAR é uma denominação anglicana mais próxima possível da proposta do Arcebispo Thomas Cramner (pai do anglicanismo exposto nos 39 artigos da Religião e no LOC de 1662) com o adicional de crer na atualidade dos dons espirituais tendo uma liturgia regrada, um clero, uma herança cristã milenar e etc... Mas ambas igrejas são missionais e adotam todos os princípios expostos acima. 

Como isso? A igreja missional é a simples chamada de volta ao Evangelho (como foi o lema da ultima Conferência Atos 29). A proposta do Novo Calvinismo é plantar igrejas que sigam o exemplo de Jesus e preguem o Evangelho que os apóstolos pregaram. Apesar de tantas palavras novas e toda a conversa de "integração cultural" as igrejas missionais tão somente ressuscitam práticas apostólicas. Por ser uma volta ao Evangelho, transpõe as barreiras que diferenciam as igrejas e denominações definindo o que é essencial e tolerando pluralidade no que é secundário.

É exatamente isso que a Igreja atual precisa. Uma volta sincera, sem alarde e sem pompa ao Evangelho como Jesus Cristo ensinou e viveu. Sendo que, o Novo Calvinismo dá o melhor caminho para isso: de baixo para cima, isto é, trazendo essa conscientização diretamente nas igrejas locais. Discussões nas faculdades de teologia e nos programas de televisão tornam-se apenas espetáculos e "verborragia" complexa. A Igreja será restaurada apenas quando as igrejas que põem a mão na massa e estão diariamente em contato com os perdidos e com a sociedade estiverem envolvidas com essa necessidade de restauração. E a proposta de igrejas missionais mostra o melhor caminho para essa Restauração.


Fabio Farias, o menor dentre os pregadores

Comentários

  1. Muito bom! A leitura desse texto me alegrou muito, esse espírito precisa ser acesso novamente no coração da Igreja Brasileira. Parabéns!

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