Lembro-me de ti...

Em 19 de Junho de 1910, chegaram ao Brasil, vindo dos Estados Unidos, os missionários suecos Daniel Berg e Gunnar Vingren. Ao chegarem aqui, se filiaram a igreja Batista (denominação da qual faziam parte), mas eles divergiram dos batistas nas questões da atualidade dos dons (pois eles haviam sido influenciados pelo Movimento da Fé apostólica ou “Avivamento da Rua Azuza). Será que eu gostaria de fazer um tratado sobre toda a história do movimento? De forma alguma, por isso paro meu relato de como a Assembleia de Deus foi fundada e tento estabelecer o paradoxo entre presente e passado, o novo e o velho, entre o que era e o que veio a ser.
Nasci e fui criado dentro da Assembleia de Deus e, apesar de não concordar com muito de sua teologia, nutro um amor indescritível pela mesma.  Em meados da década de 1990 foi uma das fases na qual essa denominação mais cresceu e eu, pela misericórdia de Deus, faço parte dessa história. Ainda criança, lembro-me quando minha mãe entrava nas favelas comigo para evangelizar... uma criança com vários folhetos na mão entregando para traficantes e dizendo apenas “Jesus te ama”. 
Os assembleianos, em sua maioria, nunca foram os melhores teólogos ou os homens mais cultos, mas em contrapartida tinham um senso de evangelização inigualável. Quando eu era criança, uma palavra inexistente na boca de um assembleiano era 'barreira'. Se fosse preciso, iriam para o monte orar tranquilamente (de dia ou de noite), evangelizar traficantes não era problema, pois Cristo “Hoje te quer libertar”.
Existem pequenas coisas que muito me emocionam... uma dessas é lembrar-me de  como as “mulheres devotas” se vestiam, de tal forma que eram conhecidas em qualquer lugar: vestido comprido (nada semelhante aos da ADUD) e com o famoso “coque” no cabelo. Me achou legalista pelo meu comentário? Permita-me que me delicie com minhas recordações no qual a piedade era exercida e, permita-me ainda, recordar de como se vestiam as santas mulheres do passado (1 Pe 3:3-5).
Eu amo ver, até hoje, aqueles velhinhos pegarem no microfone falarem um único texto e depois dizerem “Eu estou muito feliz com MEU Jesus”. Isso é fé. A Graça faz o homem ter consciência da alegria interior produzida pelo Espírito Santo... o foco do homem que foi tocado por Cristo não é a prosperidade, mas as “delícias que existem perpetuamente na presença de Deus”. Quando ouço “Meu Jesus”, entendo que tais indivíduos sabem a quem pertencem e creem piamente em seu chamado. Não são teologicamente perfeitos, longe disso, mas são rendidos ao seu Deus e isso me alegra.
Eu vi o período de ascensão da denominação e, infelizmente, fui obrigado a ver sua queda. O tempo passa e com ele vão antigos amores; pessoas morrem; aparece o desânimo e, quando se trata de igreja, lobos se infiltram em seu seio. Ao falar da Assembleia, tenho um misto de emoções: alegria, tristeza, esperança... mas também tenho 'orgulho' e isso o tempo não poderá apagar. Infelizmente, nem tudo são flores e é quando os espinhos aparecem que escutamos o Mestre dizer: “Lembro-me de ti”.

“Lembro-me de ti, da tua afeição quando eras jovem e do teu amor quando noiva, e de como tu me seguias no deserto numa terra em que se não semeia. Então, Israel era consagrado ao SENHOR e era as primícias das sua colheita [...]” (Jr 2:2,3)

A Assembleia de Deus teve seu momento de Egito. Foram perseguidos, receberam “afrontas” diversas, foram deserdados, expulsos de casa por serem cristãos, mas se mantiveram firmes. Sua fé era inabalável, afinal de contas “Vencendo vem Jesus”. 
Deus achou bem meio tirá-la do Egito e guiá-la pelo deserto. Ainda era dificil ser cristão nesse período, mas caminhavam pelo deserto crendo que Deus os guardava “debaixo da nuvem e do fogo” e quando se rebelavam, eram repreendidos e voltavam para a posição devida e outros saiam do rebanho por jamais ter feito parte dele.
E quando chegam a Canaã? Esse devia ser o momento mais glorioso da igreja. A igreja cresceu, já conta com o leite e o mel. Não são mais perseguidos como dantes, mas ao invés de continuarem seguindo firme, se misturaram com as nações que Deus disse para não se misturarem. Se misturaram com o neopentecostalismo, a CGADB se tornou uma convenção de interesses políticos e nada mais que isso, somente para citar alguns exemplos. 
Sabe o que considero mais deprimente?  É deprimente ver que os pais na fé, os responsáveis humanos por transportar a tocha do legado assembleiano estão morrendo  e está se levantando uma geração que não conhece o SENHOR do Evangelismo, do amor, da humildade (Jz 2:10). A nova geração só conhece o “Sinhô” das Marchinhas pra Gizuz, dos “sabores de mel”, da arrogância, do anti-biblicismo, da apologia à burrice... uma geração que não sabe de onde vem e nem para onde vai, seja no contexto histórico ou espiritual da afirmação.
Talvez eu seja um pessimista, mas se eu chamar um jovem assembleiano moderno para orarmos no monte ou na igreja por toda a madrugada ele me dirá um “muito obrigado” ou algum palavrão... chame o mesmo jovem para ir a um show com 'trocentos' cantores gospel e ele não sairá de lá até acabar o evento. A presente geração deseja o reconhecimento e os aplausos, a passada desejava os tapas que receberiam por viver o evangelho.
Escândalos e mais escândalos. Na Bahia, pastores são expulsos das igrejas que pastoreavam; relatos de homens que foram excluídos da denominação por serem calvinistas; problemas na organização do evento do Centenário por motivos políticos e onde isso tudo nos leva? Nos leva a um “corpo dividido”, perca de identidade histórica. Eu esperava que até o período do Centenário algo tivesse mudado... mas a Assembleia que vejo comemorar o centenário não é a que eu conheci.
Se amo minha denominação? Sim! Continuarei amando? Sim! Permanecerei nela? Sim! Por quanto tempo? Somente Deus me dará a resposta! Mas sei que enquanto eu estiver nessa denominação, me orgulharei de sua história, de seus métodos “simplistas” e crerei na reestruturação da antiga fé, dos antigos marcos que jamais deveriam ter sido retirados. Pela Unidade possível e pela verdade obrigatória, marchemos.

Renan Almeida, Evangelista pela Graça de Deus.

Comentários

  1. você está sendo gentil... eles deliberadamente mentiram sobre a questão dos dons e a real intenção deles ao chegar no Brasil, se infiltrando numa igreja antiga para dividi-la. Obviamente os assembleianos varrem pra baixo do tapete essa história, porque não fica bem a nenhuma igreja dizer que começou num país mediante dissimulação, insubordinação e divisão. Pelo menos explica o fato de haver tantas versões de Assembleias de Deus debaixo do mesmo guarda-chuva hoje...

    ResponderExcluir
  2. Inicialmente, deixo claro que se respondo é por ter muita paciência. Esclareço ainda que o fato de você postar como anônimo, já faz de você um criminoso.

    Segundo a Constituição Federal Art. 5, IV diz "é livre a expressão do pensamento sendo vedado o anonimato"

    Eu sendo gentil? sinto dizer, mas acho que você não sabe qual o Renan que está escrevendo essa postagem. Se eu tiver que falar contra a Assembleia de Deus, eu falarei. Não sou um apologista politico, meu compromisso não é com uma denominação e sim com as Escrituras e o Deus dela.
    Mentiram sobre a questão dos dons? ou você se expressou mal ou é um cessacionista. Os dons são ensinados de forma enfática em I Co 14 e nos é ordenado buscar com zelo os dons espirituais. Se ensinamos que os dons não existem (quando a Bíblia não nos diz isso e não diz que eles cessaram) e se ensinamos os "nossos discipulos" a desprezarem as profecias sem nem averiguarem, então tudo que fazemos é pregar rebeldia contra Deus.
    A intenção deles era dividir? prazer quarta pessoa da trindade... eu sempre quis te conhecer! Você falar de que a intenção deles era dividir demonstra que você está partindo de pressupostos teóricos e não de fatos. Você fala como se conhecesse o pensamento deles, mas eles estão mortos e se estivessem vivos, aos homens foi vedado conhecer os pensamentos de outrem.
    Assim como Lutero, em princípio, Gunnar Vingren e Berg não queriam fundar uma nova denominação e sim "reformar" a já existente. Isso não deu certo com Lutero e não deu certo com eles.
    A divisão era algo inevitável. Nos Estados Unidos, no MOvimento da Rua Azuza, muitos batistas, holiness e de denominações diversas se separaram porque uns aceitaram a mensagem da 'Continuidade dos dons' e outros, sem argumentação bíblica, continuaram batendos os pés e dizendo "os dons cessaram".
    Afirmar que começou debaixo de insubordinação, dissimulação e divisão? interessante, mas igrejas neopentecostais estão aí e não vejo o povo reclamando (infelizmente não reclamam)... mais um argumento falacioso.
    Existe algo bom em Nazaré? para você não há, mas aqueles que decidem andar por lá, veem que existe 'algo' de valor. Falar da história é doloroso? não considero, mas ainda que o passado tenha sido negro como você alega, alegro-me pois "Deus já não se lembra dos pecados dos tempos passados"...
    O que mais tenho a dizer? tenho a dizer que a "herética" Assembleia de Deus, apesar de chegar muito tempo após os batistas e outras denominações, fizeram algo que os outros não fizeram 'evangelizaram' e muito. Hoje, nós os assembleianos somos muitos e me orgulho disso? de forma alguma! mas mantenho-me de cabeça baixa olhando para aqueles que se entregaram e sofreram a fim de que o movimento prosperasse.
    Somente a Deus seja Glória e que a "herética" e "divisora, insubordinada e dissimulada" Assembleia de Deus seja instrumento para a Glórificação do nome do Senhor.

    PS: Minha mente está cativa as Escrituras. Abraços.

    ResponderExcluir
  3. Anônimo"... Nunca imaginei que alguém diria que Renan é gentil... lol.

    Nunca pertenci a AD, era batista e hoje sou presbiteriano, mas não há como concordar contigo.

    A história está ao lado da AD: eram pastores batistas e se transferiram legalmente para a IB de Belém. Em outros países o assunto dos dons estavam sendo discutidos, haviam igrejas batistas que tinham adotado a prática dos carismas, portanto não foi uma rebeldia velada.

    Daniel Berg e Gunnar Vigren desejavam avivar a IB e não dividi-la. Eles pregaram o revestimento de poder (batismo no espírito, msm q eu não concorde com a teologia deles) na IB de Belém. Sendo que a MAIORIA da igreja aceitou como havia acontecido em outras IBs pelo mundo. Mesmo sendo maioria, a minoria expulsou ILEGALMENTE a maioria da igreja (lembre q o senso de democracia é muito forte na igreja batista).

    Ao invés de calarem sua mensagem sincera em troca de uma estabilidade (salário) por parte da IB ou da oportunidade de se tornarem pastores da IB no Brasil eles prosseguiram no chamado divino para eles e abriram outra igreja. Deus e os santos do passado além de muitas páginas escritas são testemunhas de suas privações. Foram forçados a isso e a história mais uma vez está ao lado deles: a AD cresceu e trouxe o evangelho a milhões de pessoas.

    Se há tantas ADs falsificadas como a AD Brás ou a ADVEC é pelo fato dos pastores delas terem aderido ao neopentecostalismo! Nãoé culpa dos missionários. Eles desejavam voltar cada vez mais para a Escritura, mesmo q tivessem cometido erros pontuais. Essas ads falsificadas por aí não desejam voltar para bíblia e sim lançar "novos fundamentos".

    Nem venha comparar atualidade dos dons com teologia da prosperidade, isso seria de um neofitismo demasiadamente ridículo.

    Fique na paz e que a AD se volte para a simplicade e continue sua chamada no Corpo de Cristo.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Obrigado pelo seu comentário!

Postagens mais visitadas deste blog

As mulheres nas Assembleias religiosas: Do uso do véu.

[Livro] Sob os céus da Escócia

Uma Visão para o Mundo Hispânico