Avivamento segundo Spurgeon


Allán Román* 

Trecho do livro "Otro Peregrino" (espanhol), uma biografia de C.H. Spurgeon,
referente ao tópico "Prerrequisitos de un avivamiento", capítulo 1 **

Vamos tocar brevemente num tema muito importante, que é “o avivamento”, que de maneira tão significativa se encontrou presente no ministério singular de Spurgeon. Que tipo de servo de Cristo é exigido como pastor de uma igreja grande e crescente, que experimenta um significativo avivamento espiritual? As respostas são varias

1. De modo fundamental, um bem sucedido servo do Evangelho tem que ser um ministro pleno do Espírito Santo. Spurgeon exemplificou suficientemente o significado “para que sejais cheios de toda a plenitude de Deus (Ef 3.19).

  1. Spurgeon experimentou a plenitude do Espírito de forma profunda. Contudo, igual a muitos homens espirituais bem sucedidos, tinha muitos críticos. Apesar disso, Spurgeon pregava com grande poder espiritual. Houve muitas conversões entre aqueles que o escutaram. Era um homem “poderoso com Deus”.
  1. Um espírito livre, desprovido do peso da tradição, constitui outro prerrequisito para ser útil. Spurgeon não podia ser sujeitado pela rígida sociedade Vitoriana de seu tempo. Tornou-se em um extraordinário inovador de primeira magnitude. A pregação que fluiu do seu púlpito gerou uma revolução. Foi criticado pelos londrinos da alta sociedade como vulgar e cruel, mas seu afiado estilo anglo saxônico intrigava e cativava o povo comum, de tal maneira que milhares iam para escutar sua simples oratória. O próprio Spurgeon alegrava-se pela sua simples pregação vulgar. Dizia: “Se eu fui salvo por um Evangelho simples, sou obrigado a pregar esse mesmo Evangelho simples até que eu morra, para que todos sejam salvos por ele. Quando cessar de pregar a salvação pela fé em Jesus, ponham-me num manicômio, pois podem ter certeza que eu perdi a razão.”

    Todas as suas obras falam a esse respeito. Os carentes sentiam que finalmente haviam encontrado um espírito livre que guiaria os membros da igreja a fazer o que fosse necessário para satisfazer as peremptórias necessidades dos pobres. Spurgeon, como um pássaro libertado subitamente da sua gaiola, voou com uma mensagem de fascinante liberdade e frescor, que levou esperança em suas asas para os problemas sociais e espirituais de Londres e do mundo. E a gente comum o escutava com gosto.
  1. Alem do mais, um bem sucedido ministro de Jesus Cristo deve ser um bom pensador, um pensador disciplinado. Spurgeon poderia pensar? Ele nunca recebeu uma educação teológica formal. O criticaram muito por isso. Alguns críticos lhe qualificaram como “tedioso” e outros de “estúpido”. Spurgeon tinha planos de estudar em um instituto teológico, mas as circunstâncias conspiraram contra ele. Contudo, estava muito longe da mediocridade mental. Possuía um intelecto brilhante. Toda sua carreira como pregador provou isto. Era um leitor ávido e possuía uma memória fotográfica. Podia classificar em sua mente tudo que lia; e possuía um dom incomum para recordar imediatamente o que precisava. Acumulou milhares de livros e a maioria era pesados volumes teológicos. Seus comentários e observações ás margens nos falam de como prodigiosamente os lia. Era um pensador e estudioso extremamente capaz.
  1. Um ministro também deve ser humano. Spurgeon respondia essa exigência. Amava as pessoas e seu senso de humor era contagioso e notório. Por exemplo, durante uma eleição parlamentar geral, Spurgeon veio muito tarde para um compromisso no qual ele deveria falar. Explicando seu atraso, explicou que tinha parado para votar.

    “Votar?! Mas meu querido irmão, eu pensei que você era um cidadão da Nova Jerusalém?!” - perguntou um crítico extremamente piedoso.

    “Eu sou – respondeu Spurgeon, mas meu 'velho homem' é um cidadão deste mundo;”

    “Ah! Mas você deveria mortificar seu 'velho homem'” - replicou o crítico.

    “Isso é exatamente o que sou - argumentou Spurgeon -, pois meu 'velho homem' é um membro do do Partido Conservador e eu me forcei a votar a favor dos Liberais” E assim encerrou o encontro.

    Spurgeon recebeu críticas consideráveis por injetar uma boa dose de humor em seus sermões. Defendia-se dizendo: “Se vocês soubessem tudo o que guardo, tudo o que não digo, vocês não me criticariam.” Um detalhe interessante do seu senso de humor nos é mostrada na forma que ele preencheu uma solicitação de seguro de vida: no questionário médico uma das perguntas era: Tem convulsões desde a infância? A resposta de Spurgeon foi: “não, a menos que se refiram a convulsões de risada.”

    Não obstante, Spurgeon tinha seu lado profundamente sério. Frequentemente sofria de depressão, como se verá durante o desenrolar de sua peregrinação: sofria de gota reumática, entre outras coisas; mesmo em suas pregações, eram situações que o deixavam muito tenso. Os diáconos tinham que vir e orar por ele. Comentava: “Cada vez que tenho que pregar me sinto terrivelmente enfermo, literalmente enfermo, e me sinto como se estivesse cruzando o Canal da Mancha.”

  2. O ministro que anseia ser poderoso diante Deus deve sentir a paixão de anunciar ao povo a fé em Cristo. A verdadeira fé. A fé salvadora. E nisto Spurgeon era notável. Seu ministério evangelístico era poderoso e tão profundamente apreciado como seu ministério pastoral, sua pregação e suas obras sociais. Pregava em campos e estádios, em teatros, ao ar livre e em qualquer e em qualquer lugar que se reunisse o povo. Se papel de pastor evangelista foi o que destacou seu ministério. O próprio Spurgeon dizia: “não posso estar contente nem sequer cinco minutos, senão estou tratando de fazer algo por Cristo” Também dizia: “Eu prefiro ser o instrumento de salvação de uma alma, do que ser o maior orador da Terra.” Transmitia essa paixão aos outros. Em 1867 o Tabernáculo Metropolitano contava com 250 membros, todos envolvidos na obra evangelística.

    Mais ainda, Spurgeon se deu conta de que se Londres devia ser conquistada para Cristo, o evangelismo deveria concentrar-se em plantar novas igrejas. Neste trabalho Charles alcançou a excelência. Sabia que uma paixão pelas almas devia resultar resultar em uma obra sensivelmente prática, como iniciar novas congregações. Comentava: “Quando vocês lamentam-se pela desigualdade do mundo, chorar não produzirá nada se o choro não for acompanhado pela ação”. Como resultado disso, já em 1878, quarenta e oito novas igrejas haviam sido estabelecidas sob sua supervisão, somente na área metropolitana de Londres. As conversões foram inumeráveis.

  3. Além do mais, para alguém ser usado no avivamento, a oração e a tribulação são essenciais. A tribulação parece sempre ter um papel vital na preparação de um servo de Deus para que exerça um grande serviço , por parte do Espírito Santo. As provas que Spurgeon suportou são lendárias. Através de toda a sua vida experimentou provas o levaram ao desespero, e graças a elas, pôs-se de joelhos. Mas o desespero sempre inspira a oração. Felizmente, Spurgeon herdou uma igreja que orava constantemente. Ele sabia e afirmava: “as reuniões de oração são a máquina propulsora da igreja.” Como orava a sua congregação! Eles oraram para que se desse um avivamento. Mas a oração deve ser tanto pessoal quanto coletiva. Como orava Spurgeon. Parecia orar em um espírito de oração contínua. Não era dado a orações formais, mas orava sem cessar. Podia passar imediatamente de uma conversa com um amigo à uma oração.

  4. Sobre tudo, um homem de Deus, para ser usado significativamente por Deus, deve ser simplesmente isso: um homem de Deus. Spurgeon tinha muitos dons incomuns. Uma mente brilhante e uma personalidade cativante. Possuía uma voz maravilhosa e seu dom natural para a oratória surpreendia as multidões que foram escutá-lo. Podia organizar seu trabalho de forma assombrosa, mas acima de tudo, amava a Jesus Cristo de todo o coração. Dízia: “preferia ser santo a ser feliz, se ambas as coisas estivessem dissociadas.” Spurgeon tinha um propósito e uma meta: exaltar ao seu Salvador com uma vida piedosa e uma pregação do Evangelho com poder.
Resumindo, Spurgeon, levantado pelo avivamento do Espírito Santo, iniciou uma peregrinação que daria a Inglaterra e ao mundo um dos maiores ministérios pastorais, evangelísticos e sociais. O homem chamado Cristão *** havia deixado o mundo pronto para o descobrir.



* Allán Román  é bacharel em Teologia pelo Spurgeon College em Londres e tem pós graduação teológica no London Teological College, sendo atualmente pastor na Iglesia Bautista de la Gracia no distrito federal do México, mantendo um dos maiores portais de conteúdo acerca de Spurgeon no mundo e o maior em língua espanhola: http://www.spurgeon.com.mx/

** Tradução: Fabio Farias

*** Alusão ao personagem principal do Peregrino, de Jonh Bunyan. Pois este texto foi retirado da biografia de Spurgeon, Otro Peregrino (O Outro Peregrino, sem tradução), que faz um paralelo entre Spurgeon e o personagem Cristão.



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