Igrejas velhas não valem nada


Se tem uma coisa que eu admiro nos japoneses é o respeito e a honra que eles dão aos idosos. São vistos como pessoas sábias, vividas, experientes, que já passaram por todo tipo de dor e sofrimento, que já erraram e acertaram muito, que entendem que a testosterona da juventude nos leva a cometer erros muitas vezes irreparáveis. No Japão, velho é bom. Paradoxalmente, no Brasil velho é ruim. É sinônimo de coisa ultrapassada, defasada, que não serve mais, que não entende os nossos tempos, que está apegada a tradicionalismos e coisas de uma época que não se aplica mais aos nossos dias.

Com o perdão da palavra, mas, nesse sentido, como nós, brasileiros, somos ignorantes!

Jovens têm, é lógico, o seu valor. São cheios de garra, têm disposição, ímpeto e vontade de mudar o mundo. O problema surge quando queremos mudar o que não precisa ser mudado. Pois, queira você ou não, jovem, você é inexperiente. Ainda tem muito feijão para comer. Um rapaz de 20 anos nunca vai se comparar a um senhor de 60, por exemplo, em número de cicatrizes na alma. Cara, são 40 anos a mais de vivência! Você acha isso pouco? Comparar chega a ser patético. Uma sociedade formada sobre a inexperiência dos jovens é uma sociedade que vai cometer todos os erros que os velhos já cometeram – sem necessidade alguma de que eles fossem repetidos  Infelizmente, é o que tem ocorrido em muitas igrejas.

Fico lendo no twitter alguns pastores garotões querendo dizer aos mais velhos como se deve fazer igreja e o que leio muitas vezes me dá um desânimo atroz, pra não dizer assombro. É patente que são uns meninos cheios de boa vontade, mas também lotados até a boca de equívocos, inexperiência, ignorância teológica e falta de traquejo. Outro dia li um jovem pastor ligado a uma organização de mocidade para cristãos defender que masturbação não é pecado se você o faz pensando na sua esposa. Depois, o mesmo garotão comparou roupa de pastores com roupa de políticos numa analogia tão sem fundamento que me deu até pena. E basta ler os tuites dele que você percebe até coisas menores, como montes de erros de gramática e ortografia. E são esses que estão discipulando nossos jovens??? Deus tenha misericórdia de Sua Igreja…

Jovem, lembre-se que Israel foi dividido porque o rei jovem deu mais ouvidos aos conselheiros garotões do que aos anciãos. Você quer um conselheiro nas coisas de Deus e da vida? Busque alguém que tenha fios brancos na cabeça. Barba preta não faz de ninguém um bom pastor.  Cabelos grisalhos também não, mas ajudam muito. Se eu vou a um médico, não procuro um recém-formado, vou aos que têm diplomas  amarelados na parede e uma estrada longa percorrida. Por que não faria o mesmo com os médicos de alma?

Fui certa vez a uma conferência teológica acompanhado de um sacerdote que está na casa dos 50 anos. Eu tenho 39. Assistimos a uma palestra de um jovem e brilhante teólogo. A exposição dele foi excelente. Na saída comecei a elogiar o rapaz para esse sacerdote que estava comigo. Ele ouviu-me pacientemente. Ao final me disse uma frase que eu não esqueci: “Mauricio, ele pode ser muito bom, mas ainda não sofreu. Deixa ele sofrer mais e depois a gente conversa”.  Refletindo sobre aquela frase, vi que ele estava coberto de razão: ninguém se torna um general sem carregar em si muitos ferimentos de batalhas passadas.

Tudo que alguns homens gostariam de fazer
é destruir as tradições cristãs. Na foto, Bispo Josep Rosselo,
Moderador da Igreja Anglicana Reformada.
Os jovens cristãos chegam cheios de vontade de fazer e acontecer. Ótimo. Mas muitos, em especial pastores, enfiam os pés pelas mãos, porque ignoram o conselho dos mais velhos. Acham que sacerdotes com mais de 50 anos são velhos corocos presos a tradicionalismos inúteis, a pensamentos velhos e estruturas que não funcionam mais. Tadinhos. A Igreja tem de conversar com a sua época? Lógico! Mas a Igreja não tem que alterar a mensagem da Cruz para isso. Não precisa falar palavrões. Não precisa falar “quaé, mermão”. Muito menos reinventar a roda. O que funciona há 2 mil anos funciona há 2 mil anos!!! Que continue funcionando!!! Mas não: templos são coisas velhas, então temos de nos reunir em tendas ou outros ambientes alternativos. De preferência com cestas de basquete na parede pra mostrar como a gente é cool, tá ligado? Terno e gravata são coisas velhas? Então temos de pregar com camisas de malha com dizeres grafitados, como “Jesus rules!“. Ritos e cerimônias são coisas velhas? Então temos de abolir qualquer forma de liturgia. As teologias pregadas não mudam desde a época de Lutero e Calvino? Então temos de inventar bobagens novas como a Teologia Relacional porque, afinal de contas, como teólogos do século 16 poderiam estar certos? Nada disso, certos somos nós, para quem love wins. E fico imaginando Jesus vendo tudo isso e lembrando: “Eu sou o mesmo ontem, hoje e serei para sempre”. As pessoas e os tempos mudam? Claro! Mas a essência humana é igual desde Adão e é na essência do homem que o Evangelho age, não na sua cultura temporal.

Jovem, você não tem de reinventar o Evangelho. Ele está aí, prontinho, há 2 mil anos, num livro chamado Bíblia. O conteúdo desse livro não mudou em nada, nem seus ensinamentos. Ele é um presente de Deus para você. Se um pastor valorizar mais o papel de presente (ou seja, a forma como é apresentado) do que o presente em si, fuja dele. Busque uma igreja onde o velho é ensinado. Onde Deus continua sendo amor, mas também ira e justiça. Onde o cristão não tem que ter a cara de um skatista da moda para viver a fé.

Não tenha vergonha de ser diferente. A mensagem do Cristianismo é e sempre foi contracultura, ela nada na contramão, na direção oposta do mundo. Se alguém, mesmo um pastor maneirão da moda diz a você que você tem que participar das coisas do mundo como shows do Ozzy Osbourne… Ignore-o. Jesus disse em sua oração ao Pai em favor dos Seus: “Dei-lhes a tua palavra, e o mundo os odiou, pois eles não são do mundo, como eu também não sou. Não rogo que os tires do mundo, mas que os protejas do Maligno. Eles não são do mundo, como eu também não sou“. Você está  no mundo. Mas não é do mundo. Não se misture. Se o novo diz para  você se misturar, corra para o velho. Para aquilo que já foi testado e aprovado pelo teste dos séculos e não para aquilo que tenta fazer de você uma cobaia de laboratório para novas experiências teológicas.

Paz a todos vocês que estão em Cristo.

Comentários

  1. Excelente! De fato, o modismo está invadindo as igrejas de uma forma alarmante e preocupante, fazendo delas "agências" de novidades que na verdade não condizem com a Palavra e só desconfigura a essência do ser cristão.

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  2. Dá dó ver como o raciocínio defende "a Igreja" e a tradição mas morre em Lutero, o impostor, auto pastor, ou seja, não chega a Pedro... coitadinho.

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