Dos Romances e das Esperas

Renan Almeida

Hoje é o dia dos namorados. Como sempre, algumas datas há em nosso calendário que me geram pensamentos dos mais variados. Sobre algumas destas datas, ouso falar e sobre outras, simplesmente prefiro me calar por correr grande risco de cair no lugar comum. Dia 12 de junho é um daqueles datas que mesmo quando distante, gera um tanto de ansiedade, o mercado se aquece de forma intensa e alguns ensandecidos começam a divulgar nas redes sociais de que “se alugam para o dia dos namorados”.

Hoje é uma daquelas datas nas quais o pessoal do “Eu resolvi esperar” e do “Não morda a maçã” estarão falando, talvez, sobre o perigo do namoro e dos pecados sexuais e o pessoal do G12 estará fazendo seus “exorcismos” do namoro e dizendo que as garotas devem se cuidar para não serem como “tomates em fim de feira”. Até certo ponto há uma certa dose de verdade nas assertivas destes grupos, mas eles erram ao tratar o relacionamento apenas em termos sexuais ou, quando muito, o tratam de forma materialista e ligam suas concepções materialistas ao conceito de felicidade (Tenha primeiro um carro e depois pense em casar).

Ouso dizer que com essa concepção, casamento não é mais um sonho, é quase um sacrifício... as análise metodológicas e quase científicas (ciência de fundo de boteco) se propaga de forma assustadora e tomam o escopo de uma revelação canônica (canônica, no caso em tela, deve ser “aquele que entra pelo cano”). Também não são raras as vezes nas quais as revelações extra pauta aparecem e são ditadas como regras de fé e prática e, pasmem-se, neste momento esquecem-se do conceito de Sola Scriptura porque há uma generalização de experiências particulares (que não nego terem existido).

Sou sincero! Uma coisa que nunca suportei foi pessoas que afirmam ter um ministério infantil e dá apenas lápis de cor para as crianças pintarem e, penso eu, de forma extremamente insuportável é ver um pessoal que aos jovens falam apenas sobre namoro, principalmente do seu aspecto sexual. Sinto informar, mas as questões sexuais não é a “questão de vida ou morte para os jovens”. Será que alguém já percebeu que os jovens além de se preocupar com o “preservar-se”, precisa encontrar-se com Cristo? O ato de se preservar é bom e muito melhor será se ele estiver salvo.

Esbarro ainda na concepção infeliz de que jovem é retardado. O que quero dizer com isto? Por que sites como os já citados tem uma escrita cheia de gírias? Será que os jovens são tão incompetentes a ponto de serem incapazes de entender uma linguagem mais formal? Evitar a linguagem mais formal, não apenas acentua a incompetência destes? Se estes sites “cristãos” de relacionamento falam que “devem se formar antes de se casar”, como é que eles entendem que os jovens se formarão, se eles entendem que os jovens não entendem linguagem culta? Será que o trabalho de conclusão de curso terá na dedicatória o “eu agradeço ao mano Jesus por ter me aturado nestes dias que andei de porre e nem parei para bater um papo cabeça com Ele”?

Ademais, me surge uma dúvida: como eles conseguem definir os pré-requisitos para que se tenha um casamento bem sucedido? Afinal, o apóstolo Paulo ordena apenas que o casamento seja feito no Senhor, mas de forma estranha, essa turma “cool” consegue definir o relacionamento em termos de “carro, loiro de olhos azuis, conta bancária” e termos estranhos aos ensinamentos bíblicos. Temos uma geração de Maurícinhos e Patricinhas que se alegram no fato de serem virgens, mas que, infelizmente, entendem de “casamento no Senhor” ou relacionamento tanto quanto uma minhoca (e ainda estou sendo maldoso... eu não deveria ofender as minhocas).

A vida cristã de um jovem não pode ser resumida ao tema “namoro”, afinal ele é um ser vivente que será julgado por toda sua vida cristã e não apenas pelo tema “namoro”.
Não é difícil constatar o que tenho dito: pergunte aos jovens da igreja o que eles entendem por relacionamento. Pergunte o que eles entendem por casamento (de forma teórica, obviamente). Você verá que os jovens querem se casar mais tarde, são incapazes de assumir um compromisso. Pensam demais e constroem de menos (se é que esta expressão é semânticamente possível). Temos adultos adolescentes e adolescentes infantis e, com muita sorte, não teremos crianças fetais (mais uma expressão de existência pouco provável para meu estranho texto de romance... sua linda!).

Sabe o que é legal? É que essa “galera cool” gosta de afirmar que a fé cristã não é “não toque nisto e não faça aquilo”, mas é exatamente o que eles fazem e, exatamente, sem nada provar. Tudo se basea no experimentalismo.

“Eu escolho esperar”... “Eu escolho esperar que essa turma tome vergonha na cara e pare de tratar os jovens como retardados”. Ora Renan, mas os jovens estão com os hormônios aflorados, precisamos ensiná-los sobre estes assuntos! Eu concordo.... ensinem 365 dias por ano e só falem da salvação em ano bissexto. Depois que eu sou chato, ninguém entende o por que.

A minha geração não entende muito dos romances. Eles não buscam o conhecimento na Bíblia e preferem buscar em um paipóstolo da vida ou em um pseudo-psicólogo metido a jovem conselheiro. Ora, se for para buscar conselho com paipóstolo, eu prefiro me assentar e ler grandes poetas do passado, principalmente os clássicos e entenderei o que é um casamento e um romance de verdade (Ih! Será que esses jovenzinhos que leem o “Não morda a maçã” tem Q.I para entender Machado de Assis?).

Eu reconheço que meu texto não é nada romântico e nem nada animado. Não tem aquela inspiração própria do meu texto do ano anterior... mas para que ser romântico quando a maioria absoluta dos jovens parecem retardados? Eu quero é me assentar com os poetas, com os músicos; ler o rei Salomão dedicando poemas à sua amada; quero ler Machado de Assis e tentar entender se Capitu traiu ou não o Bentinho e ver certa beleza no amor que Bentinho sentia por Capitu; Quero tentar entender o amor de um casal de velhinhos que um dia se assentou diante de mim no trem; não quero teoria fria capaz de encantar nas redes sociais e fazer algum barulho; não quero uma teoria fria que apresenta o relacionamento e o amor como frutos de “um equilibrio sistemático e econômico oriundos de uma formatura”, eu quero ver o amor daquele jeito poético, que se sacrifica, que se entrega, que é “fogo que arde sem se ver, que é ferida que dói e não se sente, que é contentamento descontente e que é dor que desatina em doer”.

Que me lancem pedras aqueles que quiserem, não precisam me provar que estou errado... só precisam provar que estão certos. Só precisam provar sua convicções ou então reconhecê-las que são muitas vezes meras fórmulas matemáticas sem qualquer aplicação prática e se houver exceção, tenho certeza que será aquela que comprove a regra! Não propago um casamento infeliz, muito pelo contrário... creio na beleza do casamento. Mas o que é um casamento, um relacionamento que calcula absolutamente tudo de antemão? Ora, se ambos não puderem comer um belo ovo frito sorrindo um da cara do outro, temo que o sentimento seja mesmo uma fórmula matemática e, vislumbrar tal possibilidade, apenas me causa repulsa.

Quem quiser fazer contas e análises combinatórias baseadas em uma astrologia gospel, que o faça... simplesmente espero em Deus, mas não necessito de qualquer slogam de fundo de quintal para nEle esperar. Para aqueles que entenderam o que expus, salva de palmas e para aqueles que não entenderam, voltem a ler o site do “E aí galera? Vamos falar sobre namoro e por que você é um forever alone?”.


Comentários

  1. Amigo e irmão Inaelson, passei e encontrei o seu blog e fiquei algum tempo a ler algumas coisas, me deixou maravilhado pelo que escreve, e ao ler suas postagens somos edificados. Gostei de poder encontrar alguém que ama Jesus, e pelo que li deu para notar que também ama o próximo. Que Jesus continue a derramar a Sua paz e unção sobre sua vida, deixo um convite se desejar fazer parte de meu blog eu ficaria radiante em ter pessoas assim como meus amigos virtuais, de seguida irei retribuir seguindo também seu blog. Obrigado que o amor de Jesus seja a cada dia consigo e com sua familia. António Batalha.

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