Uma Visão para o Mundo Hispânico


 Bojidar  Marinov

 “América é ingovernável. Os que tem servido a revolução tem arado o mar. A única coisa que se pode fazer na América é emigrar.”

Símon Bolívar
Estas palavras foram escritas por Simão Bolívar, o Libertador da América Latina, um mês antes da sua morte aos 47 anos de idade. No momento em que escrevia esta carta, estava enviando várias malas com seus pertences para  a Europa, preparando-se para emigrar. Seus planos viram-se frustrados pela sua batalha final contra a tuberculose. Um dos revolucionários mais bem sucedidos do mundo, o único homem na história cujo nome levavam duas nações ainda em vida, morreu, contudo, amargurado contra seu próprio povo e declarou que seus êxitos políticos e militares eram como “arar o mar”. Bolívar começou sua carreira de revolucionário tendo o ideal político do recém-fundado Estados Unidos. Ele próprio era um admirador de Thomas Jefferson. No entanto, mais tarde Bolívar declarou que os ideais Jeffersonianos não funcionariam na América Latina. A razão, disse ele, era que a América Hispânica está sujeita ao “triplo jugo da ignorância, da tirania e do vício”. Raramente vemos políticos modernos tão honestos acerca do verdadeiro estado de seus próprios eleitores.

Duas gerações depois, o Presidente Mexicano Porfirio Diaz, depois de ter transformado o México em uma nação moderna a par dos Estados Unidos e das nações europeias, pronunciou suas famosas palavras: “Pobre México, tão longe de Deus e tão perto dos Estados Unidos”. Diaz não foi um político moral de ilustre criatividade, mas sua franqueza em expressar sua verdadeira opinião sobre o problema do México merece admiração.

Ambos, Bolívar e Diaz, reconheceram o verdadeiro problema da América Latina – sua cosmovisão fundamental. Diaz entendeu que “longe de Deus” o México se fez “pobre”. Bolívar reconheceu que seu país estava sob o jugo da ignorância e do vício. Eles entenderam muito bem que América Latina tinha um problema de cosmovisão e, portanto, que tinha um problema moral; e, portanto, tinha problemas políticos, econômicos e sociais. Não se deixaram enganar nem por suas próprias ideologias liberais. Nenhum deles esperava ver melhores tempos para a América Hispânica ao menos que sua cosmovisão mudasse.

E nenhum deles fez nada a respeito.

Tanto Bolívar quanto Diaz preferiram meios políticos, militares e administrativos para alcançar seus objetivos. Tampouco investiram tempo ou esforços para mudar a cosmovisão básica de seus povos; ambos preferiram tratar os sintomas no lugar da enfermidade. Embora ambos tenham produzido importantes mudanças em suas respectivas nações, a cosmovisão básica da população seguiu sendo a mesma e, portanto, o legado político e os ideais de ambos pereceram para serem substituídas por ideologias e práticas hostis a esse legado.

E não estavam sós. Desde sua libertação na década de 1820, a América Latina tem visto numerosas tentativas de reformas sociais que somente buscam a mudança institucional. A região tem visto revoluções sangrentas, golpes de estado, rivalidades políticas e tentativas de reformas econômicas. Estabeleceram-se sistemas escolares, a infraestrutura foi edificada. Adotaram-se novos slogans, ou os velhos slogans foram reciclados para um novo uso. Convidou-se especialistas dos Estados Unidos e Europa para ensinar novos métodos de administração e implementar estruturas jurídicas. Nada funcionou. Numa análise final, a América Latina se mantém nas garras da pobreza generalizada e da corrupção. O sonho de Simón Bolívar de ver seus compatriotas construírem uma sociedade como a britânica ou a norte-americana nunca tornou-se realidade.

E há uma razão para isso. A razão é que a Grã Bretanha e a América não construíram-se sobre as ações dos políticos e revolucionários  e sim sobre os escritos dos pensadores. Thomas Jefferson não criou a liberdade nos Estados Unidos, João Calvino o fez. As vitórias militares de George Washington não foram as que estabeleceram a nação norte-americana, os sermões de John Witherspoon o fizeram. Tanto na Grã Bretanha quanto nos Estados Unidos foi a cosmovisão integral subjacente do Cristianismo Reformado que criou e sustentou a cultura. Sem ela, tanto os Estados Unidos quanto a Grã Bretanha teriam sido apenas um outro México. Se os escritores Reformados e Puritanos não tivessem realizado sua missão de transformar a cosmovisão do mundo de fala inglesa, se não houvessem assentado as bases intelectuais da civilização Cristã de liberdade e justiça para todos, não haveria existido um Washington, nem um Jefferson, nem uma América. O fracasso do mundo Hispânico em produzir uma sociedade justa e próspera se deve ao fato de que há carência de Reformadores – e me refiro aos Reformadores, Lutero, Calvino, e sua atual herança intelectual e espiritual. Sem seu fundamento intelectual nada pode ser mudado na América Latina – não importa quantos golpes sangrentos, revoluções e medidas administrativas ocorram.

Desafortunadamente, as igrejas Protestantes na América Latina tem seguido o exemplo dos políticos. A maior parte da atividade evangélica tem sido apenas esforços institucionais, como a plantação de igrejas, com muito pouco ensino de cosmovisão. De fato, a maioria dos missionários da região não tem nenhuma concepção de uma cosmovisão Bíblica integral. Seus esforços tem sido orientados a curto prazo, e sua mensagem tem se limitado somente à salvação do indivíduo, como apontou há algum tempo um artigo da revista Christianity Today: “Se as viagens missionárias de curto prazo produzissem resultados a longo prazo, o México seria o país mais cristianizado do mundo”. Os novos métodos de “evangelismo corporativo” ou “evangelismo comunitário” podem produzir frutos a curto prazo; porém, essencialmente, são somente outro exercício de mudança institucional sem uma mudança de visão do mundo real. Na medida em que a América Latina segue sendo cativa da aliança do paganismo – entre as massas – e do humanismo secular – entre as elites educadas – haverá poucas esperanças de uma mudança real e duradoura. E a Igreja não está fazendo muito para desafiar esse domínio da cosmovisão pagã e do humanismo secular. Novamente, sem uma mudança integral na cosmovisão do povo, há poucas esperanças de uma mudança duradoura em todas as áreas da vida.

Contudo há um caminho melhor. Como todo caminho melhor, é um caminho longo. Pode tomar gerações. Sem dúvida tomou vários séculos na Europa antes que a Reforma produzisse sociedades com liberdade e justiça para todos. Uma cultura que está “longe de Deus” necessita de gerações inteiras para regressar a Ele, quanto cultura. Contudo isso não se sucederá com reformas políticas, nem com a plantação de mais igrejas; e não se dará por viagens de evangelização a curto prazo. Uma cultura está "longe de Deus" somente porque tem uma cosmovisão que é hostil a Deus. E, ao menos que essa cosmovisão seja desafiada e destruída, e substituída por uma cosmovisão baseada na Bíblia, nada irá mudar.

Entretanto, onde os povos da América Latina podem encontrar uma cosmovisão alternativa?

Em seu discurso ao Congresso de Angostura em 1819, Simão Bolívar admoestou os delegados a "estabelecer este Areópago para velar pela educação das crianças, supervisionar a educação nacional, purificar tudo que possa estar trazendo danos à República, denunciar a ingratidão, a frieza no serviço ao país, o egocentrismo, a preguiça, a ociosidade, e denunciar os primeiros sinais de corrupção e exemplo pernicioso." Seu clamor foi sincero mas ele poderia ter fixado bases para explicar o que é "corrupto" e o que é puro, o que é "exemplo pernicioso", e não teve nenhuma forma de explicar por que o "egocentrismo, a preguiça e o ócio" são maus. O próprio Simón Bolívar aprendeu com autores britânicos e estadunidenses cujas obras não estavam disponíveis em espanhol. O grosso da literatura que impregnava o mundo de fala inglesa não estava disponível para seus compatriotas. Não houve nenhum fundamento intelectual.

Todavia, hoje ainda não há.

E aqui é onde se encontra a oportunidade para um missionário Cristão. Ele pode fornecer esse fundamento intelectual que desafie o reinado do paganismo e do humanismo secular e que ensine na América Latina o que é corrupto e o que é puro. Ele pode fornecer a cosmovisão que aproxime a região de Deus. Ele pode confrontar a ignorância, a tirania e o vício com as ideias do conhecimento, da liberdade e da justiça.

Ele deve esforçar-se em traduzir para o espanhol livros que expliquem a cosmovisão Bíblica integral para todos os âmbitos da vida. Deve torna-los disponíveis em uma linguagem compreensível à mais de 400 milhões de pessoas. Também pode utilizar a Internet para ultrapassar as fronteiras nacionais. A fragmentação política da América Latina é uma benção de Deus - isto detém os tiranos (Imaginem um Hugo Chaves sobre toda a América Latina). A unidade do idioma também é uma benção - as ideias podem viajar tão longe quanto os servidores da Internet permitirem. Um livro traduzido para o espanhol e publicado online possivelmente chegará a dezenas de milhões de pessoas - mais do que qualquer missionário possa fazer, em proporção ao custo. Não pode ser proibido, não pode ser barrado por nenhum ditador. Pode ensinar-se as pessoas 24 horas por dia, 7 dias por semana, 52 semanas ao ano, durante centenas de anos. Um livro é um missionário de tempo integral, melhor que um missionário de carne e osso.

Há livros disponíveis: os publicados pela Chalcedon Foudantion, American Vision e outras organizações que nas últimas décadas tem trabalhado para criar a dita base intelectual na América. O mundo Hispânico não precisa reinventar a roda. Somente tem que tomar o que tem se criado e aplicar ao seu próprio contexto.

Este projeto tomará muito tempo. Pode ser um projeto para toda uma geração de Cristãos - para construir o "livro base" do Cristianismo. Tomará o processo lento e minucioso de traduzir uma palavra após a outra, uma frase após a outra, uma página após a outra, milhares de páginas. Tomará o compromisso que a América Hispânica não tem tomado. As soluções que tem-se experimentado até o momento tem sido rápidas, a curto prazo e infrutíferas. Se um missionário Cristão quer desafiar o sistema mundial, ele deve olhar para além de sua própria geração, e deve negar-se em sucumbir a tentação de buscar resultados rápidos. Os livros de cosmovisão bíblica traduzidos para o Espanhol devem ser seu objetivo, inclusive se apenas tem como resultado tê-los num website. Os livros traduzidos devem cobrir todos os âmbitos da vida a partir de uma perspectiva Cristã: vida pessoal, família, igreja, educação, governo economia, ciência, relações internacionais, ética empresarial, finanças, dinheiro, transações bancárias, etc. Nada deve estar fora do alcance da civilização Cristã. Cada solução deve apresentar-se de acordo com a Lei de Deus como estabelecida na Bíblia.

Quando se cria uma fundação semelhante, não haverá outro lugar onde os povos e os líderes da América Latina irão em busca de respostas. Quando surgir um problema, haverá somente um lugar que vai ter as soluções lógicas dentro de um marco coerente. Nenhuma outra religião ou filosofia tem um marco coerente deste tipo. Qualquer um que rechace as soluções Bíblicas não terão nada mais a oferecer. O Cristianismo triunfará pela incapacidade de seus inimigos em oferecer algo mais valioso.

E há algo começando. Cinco títulos da American Vision foram traduzidos para o espanhol, e tem produzido frutos em muitos lugares.

Há um homem que começou a traduzir faz vários anos. Seu nome é Donald Herrera Terán, e é um Pastor de uma igreja Reformada na Costa Rica. Ele tem um website com muitos livros e artigos traduzidos: http://contra-mundum.org/. Ele está produzindo a tradução Espanhola do livro Unconditional Surrender de Gary North. Sua tradução produzirá muitos frutos.

Gary North's Book
Quero concluir com um chamado aos cristãos hispânicos que leem a American Vision: você tem uma oportunidade única de transformar um hemisfério inteiro e levá-lo à Cristo. Façam o compromisso de traduzir umas poucas horas por semana. Tomem uns poucos artigos a princípio. Aprendam a escrever e traduzir rápido. Aprendam a ter paciência para sentar-se em frente ao teclado de seus computadores e escrever letra por letra. Cada letra que escreverem permanecerá durante décadas, muito tempo depois de vocês irem e instruirá a gente na fé que provavelmente nunca conhecerão. Vocês tem a oportunidade de fazer história.

Contactem Donald Herrera Terán em domadar@yahoo.com - ele tem muito trabalho a fazer - e perguntem-lhe o que precisa ser traduzido prioritariamente. Coordenem-se com ele e comprometam-se a contribuir com seu website. Vocês tem pelo menos umas 100.000 páginas de livros de cosmovisão bíblica que devem ser traduzidos. Somente um homem não pode fazê-lo em toda sua vida, porém dez homens comprometidos podem si o fazer. Uma centena de homens comprometidos podem alcançar o objetivo dentro de dois ou três anos sem comprometer-se muito. Quando tiverem tudo isto online, se surpreenderão com os resultados.

E meu chamado é também para os Cristãos Americanos: já passou o tempo das custosas missões a curto prazo orientadas apenas em salvar almas. Deus já não honrará nossos esforços, não importa quanto dinheiro se invista. Europa, nas últimas décadas, tem demonstrado o fracasso dessa classe de projetos truncados e limitados. Tem chegado o momento em que o campo de missões tem se convertido em um campo de batanha de cosmovisões mais que uma luta por salvar umas poucas almas. Se lhes interessa a América Latina, tomem decisões sábias acerca de como podem ajudar. Invistam em fundações para o futuro, e qual a melhor fundação que tem livros em Espanhol com soluções Bíblicas reais para os problemas do mundo real?

Símon Bolívar estava equivocado. Emigração não é a única coisa que se pode fazer na América Espanhola.



- Texto publicado por Bojidar Marinov no site da American Vision. A presente tradução foi feita com base na tradução em espanhol cotejada com o original inglês, por Fábio Farias.

 Bojidar Marinov nasceu na Bulgaria e foi missionário em sua terra natal por mais de 10 anos. Junto à sua equipe, traduziu mais de 30.000 páginas de literatura cristã sobre a aplicação da Lei de Deus em todas as áreas da vida e da sociedade. Também foi ativo na formação de um movimento libertário na Bulgária. Foi o primeiro presidente da Sociedade Búlgara por Liberdade Individual (Fonte: Resistir e Construir).

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

As mulheres nas Assembleias religiosas: Do uso do véu.

[Livro] Sob os céus da Escócia